Garota Interrompida

Eles gostavam de brincar com ela, aquilo tudo só podia ser brincadeira...só podia ser brincadeira! Não que eu esteja me auto-compadecendo (odeio isso), mas nada era tranquilo na vida da garota! O que fazer em questão aquilo tudo? Desde que a jovem se conhecia por gente, no máximo, as boas famílias que queriam passar alguma experiência com a mesma, logo desistiam, visto que, a pequena possuía problemas de saúde, (talvez personalidade), não se via condições para criá-la, (e vai compreender o motivo? Talvez fosse financeiro, tento acreditar nessa hipótese.)
O lugar era totalmente irregular, assistentes sociais poucos se importavam com as circunstancias, e...porque estou falando do passado novamente? Calma, já chego lá.
 Essa menina passou nas mãos de inúmeras famílias! Boas, pacientes, sádicas... (pode levar seu pensamento só um pouco mais além, mas não ao ponto que a palavra "sádicas" realmente representa, okay? Estamos falando de uma criança afinal.)
Desde tão cedo..."se moldou" como podia, para agradar á todos á sua volta, aceitava regras, calava a boca e abaixava a cabeça, de quebra, ainda esboçava um sorriso nos lábios, indiferente daquilo lhe agradar ou não, eles queriam brincar...vamos entrar na brincadeira então.

A garota sabia que tinha duas opções, uma delas era calar a maldita boca e aceitar tudo, mesmo contra a vontade, a outra era rebelar-se, mas espere um minuto, rebelar-se? Pra que? "Eu posso fazer mais do que isso." Pensou a jovem, analisando personalidades e personalidades á sua volta.
Há certos tipos de pessoas no mundo, sabe? Tem aquelas que conseguem aceitar as regras tranquilamente, já outras pegam todos os ressentimentos, raiva, ou qualquer outra coisa negativa em si, e tranquilamente elimina, (bem mais fácil), mas como a vida não ensina tudo o que devemos fazer ou não, algumas pessoas erram sem querer, (ou não), ao invés de eliminar qualquer ódio ou tristeza, elas encaminham ou descontam em outras coisas.
Todo aquele ocorrido na casa de sua irmã de sangue, havia mexido um pouco com seu problema de transtorno esquizoafetivo, na verdade o suficiente para que a garota quisesse "brincar" também. Tendo estudado seus colegas de classe (maliciosamente), amigos, amigas e até mesmo professores, a garota "se moldou", em uma nova personalidade unica, outrora com seus próprios "poréns."


Estava determinada á fazer todo, e qualquer esquema, pelo bel prazer de desgraçar com a vida deles... (Sim...isso suou um tanto quanto... filho da puta, mas era essa a intenção até então, não querendo justificar nada, mas seu transtorno tomou um pouco conta da situação ali.)
A garota passou a "treinar" expressões, que demonstrariam suas "emoções" a partir de agora, em frente ao espelho, e a participar de jogos on-line, que incluíssem interpretação de personagens, como RPG's, ou qualquer outra coisa similar a aquilo, algo que, apesar de parecer totalmente inútil, escroto ou até mesmo ridículo, futuramente, faria um belo estrago, afinal, estava tudo sendo tranquilamente calculado pela garota, (mesmo que pareça o "plano maléfico" mais bem inocente de todos).
Naquela bela manhã de Sexta-Feira, antes de ir para a escola, a garota aproximou-se de sua "mãe", de preferência segurando a Bíblia frente ao corpo, propositalmente para que esta enxergasse, abaixou a cabeça e "fraquejou" o timbre de sua voz, gaguejando propositalmente vez ou outra.
- Mãe...m..me perdoa? ....
- O que?
Perguntou a mulher friamente, a jovem tornou a repetir, agora usando "elementos" á seu favor:
- Mãe...eu não sei o que há comigo...tem alguma coisa comigo, essa não sou eu, mãe...você sabe? Morro de medo de que Deus esteja furioso...eu sou uma pecadora horrível! Por favor! Vamos para a igreja de novo! Disse a garota, voltando um olhar "estremecidamente triste", á sua "mãe."
A jovem sabia que, se tocasse no elemento "chave" de sua "mãe", tudo correria conforme esta havia planejado, e de fato! Estava dando certo!
A única coisa que a garota não conseguia fazer era chorar de mentira, era seu único bloqueio, pois de fato, mesmo treinando em frente ao espelho, nunca conseguira fazê-lo, mas já havia comovido o suficiente aquela velha maldita, aquilo já bastava.

Mas para a surpresa da "mãe" da jovem, a garota possuía mais uma carta na manga, retirou de dentro da bíblia que segurava (versículo 14), aquele famoso saquinho de soro de hospital, (sim! A garota teve a pachorra de se por á este risco! Mas vocês irão entender em breve do porque.)
A "mãe" da jovem assustou-se, como planejado.
- Olha mãe...eu preciso muito da sua ajuda, Deus esta dizendo no meu coração que, se não fizermos logo isso, ele nunca irá reconhecer nosso esforço, eu errei com você! Te machuquei...te feri...você e Deus são os únicos que podem me ajudar agora...Deus não me colocou na sua vida á toa! Tem alguma razão! Mas eu vou ter que cooperar, me ajuda mãe?
"Mas que diabos é isso!?" Vocês devem estar se questionando, é muito simples, por de trás de toda grande "igreja", há uma grande politica, ou como eles preferem chamar "doutrina", mas eu estaria adiantando muita coisa, se falasse disso agora, vamos deixar para outra ocasião.

Pela primeira vez, a jovem mentia descaradamente, sem pudor ou remorso, sem temer consequências futuras, apesar de compreender pouco ainda a coisa, (mesmo tendo planejado tudo), teve sua primeira experiência de psicologia inversa, é claro que ela temia! Sua "mãe" parecia de fato, emocionalmente atingida, pelo simples fato de que sua filha estava "sedendo" á seus métodos doentios.
A mulher então pegou o material da mão de sua filha, e em seguida, desabou-se em lágrimas...jogando o mesmo de lado, indagou:
- Filha! Me perdoe! Eu estava errada! Nada disso faz sentido....aquilo tudo me fez pensar muito, me perdoa! Mãe de verdade não faz isso! Eu te amo!
Se aquilo amoleceu o coração da jovem? Sim! Mas a jovem engolira a emoção á seco, persistindo sobre suas intenções. É claro que passou pela cabeça desta que, talvez sua "mãe" estaria jogando da mesma forma, era uma naturalidade da velha, fazer manipulação com todos, criar discórdias entre amigos, entre outros, outrora, a garota também imaginava se, tal "arrependimento" era de fato verdadeiro, e se fosse? Ela poderia se arriscar? Poderia viver em paz com sua "mãe" ? Estaria colocando tudo á perder? Apesar da garota ser do tipo que, se deixa levar pelas emoções do momento, ela passou por de cima daquilo, manteve-se firme com as lembranças amargas que possuía de sua "mãe", não por justificatória, mas porque aquilo lhe machucava, o propósito era utilizar tais lembranças negativas, como um tipo de auto-incentivo, para que continuasse firme á seu plano, lembrar-se de tais torturas, de certa forma, alimentava seu ódio, era isso que ela queria.

Com tais lembranças, para manter certa frieza em pé, balançou a cabeça negativamente para sua "mãe", faria esta passar exatamente pela mesma dor, que passara á anos.
Para quem ainda não captou, até agora, o do porquê a "mãe" da jovem vivera com o cateter atrás da garota, irei explicar melhor, (talvez de novo.)
A garota havia sido adotada, não exatamente para ser criada como filha, mas para que sua "mãe" pudesse exibi-lá como tal, "orgulhar-se" em público. Para quem não recorda-se, a jovem menina fora mantida longe de tudo e todos, por certos meses após sua adoção, para que se pudesse ser dito que, sua "mãe", havia engravidado da mesma, a jovem nada mais era que "criação" de uma mentira, uma mera ilusão, de uma mulher incapaz de dar a luz, desgostosa da própria vida.
A "mãe" da jovem, nada mais era que uma mulher insatisfeita com tudo e todos, mas cegamente fiel á sua religião. A obsessão de ter um herdeiro de seu sangue, era algo que a cegava ainda mais, desde que namorava na verdade, era algo que esta sucumbia doentiamente, afinal de contas, mesmo a mãe da mulher, seu pai e sua irmã mais nova, lhe tratavam com desdém, desdém esse que a mulher descontava agora em sua filha.

Os motivos de sua "mãe" ter se convertido, também eram propositais, na época, esta buscava não apenas um namorado, mas algo mais que isso. A "mãe" da garota também sofria de um distúrbio mental, (apesar da jovem não crer muito nisso, ainda era considerável.) Esta era mitomaníaca, mentir pode ser considerado um ato são, por muitos casos, passando-se além da sanidade ou por qualquer medo infantil, pode vir sim a tornar-se algo mais sério.
Apesar de que, na infância, as crianças podem mentir com alguma recorrência, outras possuem a dificuldade de enfrentar algumas frustrações e críticas, o resultado disso, nada mais é que mentiras, mentiras no intuito de preservar a auto imagem para seus familiares. Isso torna-se algo patológico, quando a criança com fortes tendências à mitomania se da conta de que, sua mentira pode ser entendida como verdade, sem nenhuma consequência futura, (punição.)